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O fim do Arco do Triunfo

Arco do Triunfo

Há quatro dias escrevi um post sobre Damasco e Aleppo, duas das cidades sírias que pude visitar dois meses antes do início da barbárie que toma conta do país. Hoje, escrevo sabendo que esse arco da foto acima foi destruído no último fim de semana. O Arco do Triunfo era uma das principais estruturas do sítio arqueológico de Palmira, tombado pela Unesco como Patrimônio da Humanidade desde 1996. Nos cerca de 50 hectares do sítio arqueológico existiam, ainda, construções romanas do século 2 e ruínas de períodos anteriores, como o Templo de Bel, ponto alto da visita – que já teria sido destruído também neste ano.

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Entrada do Templo de Bel, de mais de dois mil anos, também destruído

Em pleno deserto, mas ao lado de um dos míticos oásis que povoam as histórias das Mil e Uma Noites, Palmira fez parte da Rota da Seda, desenvolvendo-se graças ao comércio entre o Oriente e a Europa. Mesmo antes disso, estudos mostram que a cidade romana chegou a abrigar 120 mil pessoas – uma verdadeira metrópole para a época. Quando passei por ali, em 2010, uma tímida Palmira sobrevivia na região, com seus cerca de 40 mil habitantes apostando no turismo e na agricultura.

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Privilégio de acompanhar o por do sol por uma das portas/janelas do sítio arqueológico

É doloroso olhar para as fotos de Palmira e tentar imaginar quantas daquelas colunas de mais de 15 metros, que resistiram a terremotos e ao impiedoso clima do deserto, ainda estão de pé, agora que o Arco do Triunfo caiu. O Templo de Bel – uma divindade dos primeiros a povoarem o local, que ergueram a cidade de Palmira, como Zeus para os gregos – era a estrutura mais bem preservada quando visitei o sítio arqueológico, embora fosse anterior às edificações romanas. Era possível observar os trabalhos esculpidos nas pedras e mesmo os afrescos que decoraram seus tetos.

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Palmira vista a partir de uma das “janelas” do Templo de Bel

Palmira é um patrimônio histórico, o registro de como viveram civilizações anteriores, um capítulo central num livro de pedra e areias da história da humanidade. Sua destruição é como arrancar páginas dessa história. É claro que a perda das vidas humanas na guerra travada no território sírio é a parte mais trágica do grande absurdo que a região enfrenta, mas a destruição de Palmira e de tantos outros registros da civilização presentes nesse país elimina o trabalho da vida de quem nos precedeu, muitos séculos atrás. O escritor uruguaioEduardo Galeano dizia que cada vez que alguém observava o quadro com os fuzilados de Goya, sobre a invasão das tropas de Napoleão a Madri, recuperava aquela história, fazendo com que aquelas vítimas voltassem a cair, não sendo esquecidas. Caminhar entre as colunas de Palmira, fotografar seus arcos e observar seus templos era reviver os passos e a história de quem viveu ali.

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O sítio arqueológico era uma visita de um dia, normalmente. Alguns, com mais tempo, pernoitavam no local. Ainda assim, não é preciso ser arqueólogo ou historiador para querer passar mais do que dois dias em Palmira. Não tive tempo, por exemplo, para visitar o Castelo Árabe, no alto de uma colina. A visitação a seu interior estava interditada, mas subir a colina e observar de lá todo o sítio arqueológico, com o Templo de Nabo, os Banhos de Diocletiano e a Agora, uma espécie de arena, coração da cidade antiga, é uma visão que talvez nunca mais possa ter. Nem eu, nem você.

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Castelo Árabe, no alto, e as ruínas do sítio arqueológico, vistas a partir do Templo de Bel

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