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A dupla personalidade de San Sebastián

San Sebastián

Não visitar San Sebastián, no norte da Espanha, no verão é uma espécie de desperdício, embora eu a tenha visitado no inverno. É no verão que este balneário recebe seus festivais – de jazz, música clássica, cinema – e tem suas ruas ocupadas por terrazas (quando os bares colocam mesas e cadeiras do lado de fora). Dona de história, cultura e gastronomia ímpares (a cidade promove-se como tendo a maior concentração de restaurantes com estrelas Michelin por metro quadrado em todo o mundo), San Sebastián pode ser visitada em qualquer época do ano – não a conhecer torna-se o verdadeiro desperdício.

É que a cidade tem uma espécie de “dupla personalidade”: volta-se para a praia, no verão, e para suas montanhas, no inverno. Tem, inclusive, dois nomes… Enquanto San Sebastián é o nome em castelhano, a cidade é conhecida como Donostia em basco, também idioma oficial do País Basco – ou Euskera, também nesse idioma, o mais antigo da Europa. É comum ouvi-lo pelas ruas e toda a sinalização turística aparece nos dois idiomas, inclusive a promoção de San Sebastián como Capital Europeia da Cultura em 2016.

Com cerca de 180 mil habitantes, a cidade é um dos balneários mais famosos da Espanha – e dos mais elegantes da Europa, ali na fronteira com a França. A parte antiga é a mais procurada pelos turistas, que se no verão lotam a Playa de la Concha, no inverno podem subir mais animadamente os montes Urgull e Igueldo, para apreciar a vista lá do alto. Claro, devidamente agasalhados, porque a suave brisa de verão dá lugar a um constante vento invernal, que castiga o Cristo colocado no alto do Urgull – ao lado das ruínas do Castelo de Santa Cruz da Mota. A subida é sinalizada e há vários mirantes no caminho, todo ele pelas antigas fortificações do castelo. É comum que os visitantes subam no fim da tarde, para apreciar o por do sol na baia formada pelos dois montes, tendo a ilha de Santa Clara ao centro.

 

San Sebastián

Um dos mirantes no meio da subida do Monte Urgull

 

Na parte antiga, as dezenas de ruas apertadas estão povoadas de comércios, restaurantes e bares. O coração disso tudo é a Plaza de la Constitución, rodeada de arcos e portas com venezianas. Ali, o visitante pode ter o primeiro contato com os restaurantes locais. Seguir em direção à Igreja de Santa Maria del Coro é uma boa pedida, uma vez que, no caminho, chega-se ao Gandarias, um dos mais famosos bares de pintxos de San Sebastián. Os pintxos (pinchos, em espanhol) são pequenas doses das delícias gastronômicas bascas. Originalmente, eram uma fatia de pão com alguma dessas delícias em cima, presas por um palito – daí seu nome. Hoje, o pão pode ou não acompanhar a imensa variedade de sabores… Frutos do mar são clássicos, mas há cogumelos, diversificadas carnes, legumes… A criatividade é o limite.

A dupla personalidade de Donostia – vamos chamá-la pelos dois nomes, para não “contrariar” nenhuma dessas personalidades – faz até mesmo o visitante abrir mão de um bom vinho Rioja (veja post sobre Rioja – Cultura Compartilhada) para conhecer o Txacoli, vinho branco e jovem, servido muito frio. Ele é produzido na região e tem um modo especial de ser servido: de uma certa altura, como ocorre com a sidra, para que desprenda todo seu aroma. É o acompanhamento perfeito para um pintxo com mexilhões, polvo, anchovas ou truta. Fica ainda melhor na terceira taça, segundo a prática local, que sugere um pintxo e um txacoli a cada bar. E como o visitante precisa degustar… Buen provecho!

 

Álbum de fotos:

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