Em um casarão do século 19 de uma das principais ruas empoeiradas de Copiapó, no sul do Atacama, no Chile, o Museu Regional do Atacama tem a nada modesta missão de resgatar os 12 mil anos da ocupação humana nessa região tão inóspita do planeta. A missão é alcançada nas quatro salas do acervo, mas o evento que colocou Copiapó no mapa mundial em 2010 é hoje uma das principais motivações para turistas estrangeiros visitarem o museu. O desmoronamento da mina San José, que enterrou vivos 33 mineiros a 700 metros de profundidade, é tema da exposição que ocupa o pátio do casarão, onde está exposta a cápsula Fênix, que resgatou os 33 mineiros chilenos.
Simples, além da cápsula e do bilhete original que informou ao mundo que os mineiros estavam vivos – 17 dias após o desmoronamento –, a exposição traz cartazes contando o que aconteceu durante os 69 dias em que os 33 homens permaneceram soterrados. A simplicidade é comovente, com os cartazes divididos por uma linha tênue relatando, na parte superior, a cronologia dos trabalhos de resgate e, na parte inferior, o dia a dia dos mineiros para sobreviver.
Não há nada do glamour do filme “Os 33”, que conta a história do livro homônimo, sobre a tragédia, no museu. O Museu Regional do Atacama não tem os recursos hollywoodianos para montar uma exposição com a dimensão que o desmoronamento teve em todo o planeta – em plena Era da Informação, o mundo acompanhou ao vivo os trabalhos de resgate, conheceu quem eram os homens soterrados por meio de seus familiares e das muitas histórias que passaram a fazer parte do dia a dia de quem vivia a milhares de quilômetros do Chile.
Mesmo sem recursos tecnológicos, a simples exposição comove. Estão lá as fotos dos homens que a terra engoliu, o desespero dos primeiros dias sem comunicação, a esperança quando se pode enviar o bilhete e a alegria, do lado de fora, diante da certeza de todos estarem vivos. Não à toa o nome do acampamento montado pelos familiares dos mineiros recebeu o nome “Esperança”. E Copiapó… É ainda o endereço de muitos dos sobreviventes, alguns deles de volta a outras minas da região. A cidade é como um oásis, com pouco verde, é verdade, mas com vida em meio às montanhas de areia, pedra e cobre do deserto mais árido do mundo.
O Atacama é também o deserto mais alto do mundo. É ali, no vulcão Ojos del Salado que está o segundo ponto mais alto das Américas, a 6.893 metros sobre o nível do mar – e razão da minha visita à região. Em tempo: se você não assistiu ao filme, assista. Vale a pena relembrar a história que todos acompanhamos de perto. E os filmes inspiram viagens, sem dúvida. A arqueóloga Cláudia Plens que o diga… Já viu seu post sobre a cidade francesa que serviu de cenário para o filme “Chocolate”? Clique aqui para ler
Album de fotos: