São tristes as notícias que chegam da Turquia diariamente. Em tempos de intolerância, quero destacar um dos principais atrativos turísticos de Istambul, a maior cidade do país. Trata-se do museu Hagia Sofia, ou “Santa Sofia”, que no ano passado recebeu mais de 3,5 milhões de visitantes. A construção que abriga o museu é do ano 532 e nasceu como uma igreja. Foi igreja por 916 anos, até a queda de Constantinopla (antigo nome de Istambul), em 1453, quando foi transformada em mesquita. E foi mesquita por outros 482 anos. Com esse passado, era de se temer um confronto religioso para definir quem utilizaria a histórica construção, mas venceu o bom senso.
Porta do Imperador, a maior da construção, do século 6
O edifício com mais de 15 séculos é museu desde 1935, quando o então presidente Mustafa Atatürk, responsável pela instalação da república da Turquia, definiu esse novo papel junto a seu conselho. Se as contas em relação à idade de Hagia Sofia não encaixarem, não se preocupe. É que a construção visitada hoje foi a terceira igreja erguida no local, no ano de 360. Santa Sofia foi a maior igreja do mundo cristão até a construção da Basílica de São Pedro, em Roma. Com a ascensão do Império Otomano e sua conversão a mesquita, as imagens católicas foram cobertas com gesso e mármore. Muito se perdeu, mas há muito em exposição hoje. Os mosaicos são o ponto alto da fase bizantina da construção, com destaque para a imagem de Cristo entre o imperador Constantino e a imperatriz Zoe.
Do período como mesquita, há os minaretes – acrescentados à construção original –, fontes e oito painéis de madeira espalhados pela nave central, com os nomes de Alá, Maomé, de Hasan e Hussein, netos do profeta, e dos quatro califas. São os maiores painéis do mundo islâmico, caligrafados entre 1847 e 49. A grande cúpula, que já teve mosaicos dourados, hoje exibe inscrições do Corão. É uma das mais altas cúpulas conhecidas, com 55,6 metros. Já foi vítima de terremotos em 989 e 1344, sendo reconstruída em mármore, pedra e tijolos especiais, feitos com o barro de Rhodes.
Os maiores painéis do mundo islâmico, segundo informações do próprio museu
Tudo em Santa Sofia impressiona. Das portas históricas – a do Imperador, por exemplo, é a maior, com sete metros e datada do século 6 –, aos painéis caligrafados, destacando os mosaicos preservados na parte superior da construção. As colunas também merecem destaque. São 104, ao todo, sendo que oito delas foram trazidas do Egito para erguer a cúpula e outras têm sua origem em templo de Éfeso, na própria Turquia. Há ainda dois cubos de mármore nas laterais das naves de entre 330 e 300 a.C. Eles foram levados a Hagia Sofia em sua fase mesquita, por volta de 1580, e podem conter 1.250 litros de bebida, tendo sido utilizados para distribuir sucos ao público em períodos de celebração – ou água nos dias comuns.
Em tempo: o excelente site do museu tem informações em inglês. Muitas informações, agradando em cheio quem tem interesse pela história: www.ayasofyamuzesi.gov.br/en. Abre diariamente, com exceção das segundas-feiras e tem horário diferenciado no inverno e verão. Confira no site.
