Não é fácil simpatizar com Brasília, especialmente nos dias de hoje. Ao longo de 2016, os cartões-postais da capital brasileira apareceram frequentemente no noticiário, poucas vezes associados a boas notícias. Não poderia ser diferente, em um ano marcado por crise política e econômica e que chegou ao fim com confronto entre os Poderes Executivo, Legislativo e o Judiciário. Nada disso contribui para que o brasileiro deseje conhecer sua capital federal, o que é uma pena. Embora tão “exibida”, Brasília é uma cidade de personalidade tímida. Como costuma acontecer aos tímidos, a cidade pode parecer pouco amigável à primeira vista, como escrevi em um post anterior, o Primeiras Impressões.
É nos detalhes que a cidade projetada por Oscar Niemeyer e Lúcio Costa mostra-se a quem quer conhece-la. Se o concreto da Esplanada dos Ministérios é imponente, a árvore de pau-brasil em frente ao Ministério das Relações Exteriores é o detalhe. Assim como a garça que bebe água na fonte diante do Museu da República ou o reflexo dos edifícios ministeriais nos vidros da Biblioteca Nacional. Detalhes em meio à Esplanada, onde a pomba descansa na escultura de um dos quatro evangelistas no exterior da Catedral de Brasília, antes de retornar ao pombal projetado por Niemeyer na Praça dos Três Poderes.
Fora da tão fotografada Esplanada, nas quadras do Plano Piloto a vida em Brasília acontece ignorando a capital. É possível caminhar pelas calçadas arborizadas, pedalar em suas ciclovias e apreciar os muitos ipês – amarelo vivo ou roxo intenso, como costumam ser as cores da natureza no Cerrado, bioma mais comum no Planalto Central. Nos jardins das quadras, as árvores estão povoadas por ninhos de joão-de-barro e é preciso olhar com atenção para os buracos no chão, muitos deles tocas das corujas buraqueiras. Preguiçosas, há algumas que têm como toca mesmo improváveis bueiros.
Às margens do Lago Paranoá, do alto da Torre de TV, no parque de diversões do Parque da Cidade ou na ocupação do Eixão aos domingos, quando a avenida é entregue aos pedestres, a cidade reúne seus moradores e visitantes intensamente. Sobram espaços ao ar livre para recebe-los. Planejada e ocupada por construções que transformaram Brasília em Patrimônio da Humanidade da Unesco em 1987, a capital construída com suntuosas edificações é também uma cidade de espaços abertos. Em Brasília, conhecida por seus pilotis, vale a pena percorrer seus atalhos, mas também os caminhos mais longos.
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