Ela não é o principal cartão postal de Havana, embora seja um de seus ícones. Conhecida como “Malecón”, a famosa avenida costeira da capital cubana tem cerca de 14 quilômetros que atravessam parte da cidade, unindo Miramar, que concentra os edifícios mais novos, a “zona hoteleira”, ao histórico bairro de Habana Vieja, Patrimônio Cultural da Unesco desde 1982. O que pouca gente sabe é que a maior parte da via costeira não tem praias. A exceção são os trechos da zona hoteleira, com pequenas porções de areia. A quase totalidade dos quilômetros do Malecón funcionam como uma barreira, açoitada pelas ondas do mar dia e noite. Do outro lado, o Forte de San Carlos de la Cabaña, construído pelos colonizadores espanhóis para proteger a cidade fundada exatamente ali, no bairro de Habana Vieja.
A passagem do tempo é um paradoxo na capital da maior ilha do Caribe. Um passeio pelo Malecón, que começou a ser construído em 1901, mas só foi concluído 50 anos depois, mostra que o tempo deixa marcas profundas. Tanto que não raras vezes os visitantes comparam o Malecón a um cenário pós-bombardeio. Embora pareçam abandonados, muitos dos edifícios estão ocupados, ainda que irregularmente. Em muitos deles, é possível observar os resistentes traços da arquitetura neo-clássica, art decó e art nouveau empregados em suas construções.
Restaurar o rico acervo arquitetônico cubano nunca foi prioridade para o governo dos irmãos Castro, mas ficou especialmente complicado após o fim da entrada do dinheiro oriundo da antiga União Soviética. Algumas construções, no entanto, começaram a ser remodeladas. São os edifícios de Habana Vieja, tombados pela Unesco. No Malecón, onde a ação do tempo é acelerada pela maresia direta e constante, os restauros são pontuais, como os realizados no edifício ocupado pela recém-reaberta Embaixada dos Estados Unidos em Cuba – sim, o Malecón também serve de endereço aos EUA em Havana.
E é justamente a Embaixada dos EUA, próxima ao Hotel Nacional, que pode servir de ponto de partida para quem quiser caminhar pelo Malecón em direção a Habana Vieja. São cerca de cinco quilômetros que funcionam como uma síntese da capital cubana. Isso porque o Malecón é um dos pontos de encontro de quem vive em Havana, especialmente no fim da tarde. Há pescadores, crianças pulando nas águas do mar – mesmo sem praia –, amigos conversando em voz alta, casais apreciando o pôr-do-sol e turistas. Enquanto os cubanos olham para o mar, é fácil reconhecer os visitantes e seus olhares surpresos diante das edificações na outra calçada do Malecón. A dica é caminhar lentamente, fotografar e, se cansar, pegar um coco-táxi até o Museu da Revolução, já em Habana Vieja, que será tema de um dos próximos posts!